quinta-feira, 20 de maio de 2010

MANUSCRITOS ECONÔMICO-FILOSÓFICOS REUNIDOS e outros textos

quinta-feira, 20 de maio de 2010

MANUSCRITOS ECONÔMICO-FILOSÓFICOS parte 4

Qualquer sociedade (e por que não a própria civilização humana?) deveria questionar-se acerca de alguns tópicos fundamentais:
Como queremos viver?
Como podemos viver?
Como devemos viver?
Sem entrar no mérito específico de cada uma destas perguntas, se as ignorarmos, não debatendo sobre elas, viveremos guiados por forças cegas (a cupidez da plutocracia nacional e transnacional, de conseqüências amplamente nefastas), sem autonomia, independência e longe do que seria uma existência ótima, a mais sustentável, saudável e feliz. Urge entender que uma sociedade a mais produtiva, no sentido de que gera o maior valor agregado na produção de bens e serviços, não necessariamente é a mais sustentável, saudável ou feliz, até porque riqueza material não é o único requisito relevante na vida de um individuo ou na história de uma sociedade. Ou alguém estaria disposto a abrir mão da sua saúde, seus amigos e família, sua felicidade e bem-estar para simplesmente ter acesso a mais bens de consumo, sobretudo quando a maioria desses bens afigura-se supérfluos ou totalmente inúteis (desejamo-los mais por ostentação e vaidade do que por real necessidade)? O paradigma produtivista/economicista (este de supervalorizar a riqueza material) tem-se mostrado na prática altamente ineficiente para, por exemplo, o propósito de nos tornar mais saudáveis e felizes (para confirmar isso, basta ler recentes pesquisas comprovando que não obstante os maiores níveis de riqueza das economias as sociedades avaliam seu bem-estar subjetivo na mesma magnitude que há 50 ou 60 anos, quando eram economicamente muito mais pobres; também os altíssimos índices de doenças, inclusive as mentais, como a depressão, os um milhão de suicídios/ano, a obesidade, o estresse, os altos índices de homicídios, o consumo abusivo de drogas – lícitas e ilícitas, e medicamentos, comprovam que as duas pernas do colosso Capital, trabalho e consumo, são na verdade pernas de barro; as alienações no campo do trabalho e do consumo cobram um preço caro em termos de saúde física e mental. E em nosso voluntário condicionamento enxergamos riqueza como simplesmente riqueza material, acúmulo de bens. Mas, e a riqueza intelectual, artística, moral, espiritual? E a riqueza infinita de ser livres e auto-determinados? E a riqueza inefável de vivermos concordes nossas próprias metas e sonhos? Também é argumento periclitante afirmar que somos mais livres que no passado, ou mais iguais (igualdade em termos de oportunidades e direitos, entenda-se bem), já que o ser humano é cada vez mais dependente de forças que não controla, de processos que não compreende, de trabalhos extenuantes, alienantes, mal-remunerados, refém de sociedades cada vez mais injustas e desiguais (a desigualdade tem crescido entre regiões, entre países e dentro dos países; a desigualdade aumentou mesmo entre os países da OCDE, os mais ricos e desenvolvidos do mundo), refém das contradições do atual modelo socioeconômico, como o desemprego estrutural/tecnológico e o aquecimento global (as nações mais ricas e as classes abastadas do mundo inteiro poluem o meio-ambiente, com seus hábitos de consumo perdulários, extremamente egoístas - parecem crianças mal-educadas, que querem tudo o que vêem - enquanto a conta é paga, sobretudo, pelos mais pobres e os de maior vulnerabilidade sócio-econômica).

Outras perguntas relevantes que sociedades e civilizações se devem fazer:
O que produzir (em termos de bens e serviços ofertados às pessoas)?
Como produzir?
Quanto produzir?
Quem vai produzir?
Para quem se vai produzir?
A que custo social, econômico e ambiental?
São perguntas eminentemente de cunho econômico, mas importantes demais para apenas economistas responderem. Devem ser amplamente debatidas por toda a sociedade e os distintos grupos existentes nela. Ao economista cabe um papel técnico: após o debate público, deve ajudá-la a atingir de forma ótima os fins a que a sociedade se propôs. Isto sim configuraria uma sociedade realmente livre e democrática, auto-dirigida, autoconsciente, distante do fetichismo, da alienação, do desperdício, do abuso do poder político e econômico. Diametralmente distinto do que ocorre com as regras vigentes: milhares de decisões individuais (de produtores e consumidores) descentralizadas e caóticas, supostamente harmonizadas por uma mão invisível, que levaria as sociedades humanas e suas economias subjacentes a produzir e ofertar eficientemente (sem desperdício de recursos) tudo de que necessitam em termos de bens e serviços. Isto é claramente uma ideologia! Acaso a fome de um bilhão de pessoas e a pobreza de mais de dois bilhões de indivíduos humanos são resultados eficientes? Acaso altas taxas de desemprego e subemprego são eficientes? Acaso é eficiente a poluição/degradação do meio-ambiente e seu arrasador corolário: o aquecimento global? Acaso é eficiente a absolutamente desigual distribuição de ativos econômicos, a concentração da renda, riqueza, poder, direitos, oportunidades, propriedades? Chama-se eficiência quando a maioria dos bens e serviços produzidos pela economia mundial, como alimentos, entretenimento, educação, saúde, energia, medicamentos, bens de consumo duráveis, commodities, são consumidos por uma minoria de privilegiados, apesar dos recursos naturais utilizados serem de todos, inclusive a mão-de-obra; e quando as violentas conseqüências ecológicas dessa ação humana na natureza também são sentidas por todos? São eficientes as recorrentes crises e “bolhas” econômicas e as reconhecidas falhas de mercado? Não estamos com isso defendendo, necessariamente, a supressão do mecanismo de mercado e do sistema de preços. Mas é indiscutível que as economias precisam de mais planejamento e regulação, e quem está apto a fazê-lo são as sociedades civis organizadas, inclusive diretamente, e o Estado, que neste estágio da evolução humana ainda se faz absolutamente indispensável.
(...)
*
A evolução técnica, científica e tecnológica tem propiciado um aumento exponencial da produtividade do trabalho. Isto quer dizer que cada trabalhador no setor produtivo produz cada vez mais mercadorias no mesmo período de tempo, significando objetivamente: 1) que o capitalista pode ter seus lucros aumentados, porque ele vende mais mercadorias (se o preço se mantiver constante); 2) o capitalista pode diminuir o preço da mercadoria, o que ampliará suas vendas, a expensas dos concorrentes (se as maiores vendas compensarem os preços menores). Para o trabalhador, estes aumentos sucessivos de produtividade podem proporcionar: 1) aumentos do salário real (como os preços caem, a cesta de consumo do trabalhador médio ficará mais barata, o que significa um efeito-renda); 2) com luta política, o salário nominal também pode subir, já que o capitalista está obtendo lucros maiores, e uma parte deste maior lucro pode ir para aumentar o salário dos trabalhadores; 3) como os trabalhadores estão produzindo mais mercadorias no mesmo período de tempo, isso significa que a jornada de trabalho pode ser reduzida. É provável que nas próximas décadas a jornada de trabalho vá diminuindo progressivamente. Basta olhar para a história para constatarmos que isso já aconteceu de forma significativa (no Brasil, discute-se a diminuição da jornada de trabalho de 44 para 40 horas semanais; já na França, a discussão posta é para se trabalhar abaixo das 40 horas). Todos sabem das extenuantes horas de trabalho diárias que os trabalhadores tinham de enfrentar nos primórdios da Revolução Industrial. À medida que cresça a produtividade a luta política pode transformá-la em argumento incontestável para adquirir mais bem-estar e mais direitos sociais para as populações mundiais, como uma jornada de trabalho menor. No limite, imagina-se uma sociedade da opulência em que o Estado paga uma quantia em dinheiro para seus cidadãos para eles fazerem o que desejarem (claro que esta é a utopia – ou melhor seria dizer, a ideologia capitalista, muito dificilmente exeqüível dada as contradições inerentes ao sistema econômico do Capital). Seria uma volta ao passado, à antiguidade clássica, quando os cidadãos ocupavam-se do ócio (que significa lazer e atividades intelectuais) e não do negócio (no capitalismo, a produção de mercadorias para serem vendidas visando ao lucro pecuniário). Nesse estágio evolutivo da civilização, o humano (ou pós-humano?) terá a vida em suas mãos e terá de descobrir o que fazer com ela, como viver, o que sonhar, criar, produzir. Imaginemos que isso seja realidade agora. O que você faria com as 24hs horas do dia para sua livre fruição, tendo suas necessidades materiais provida pelo Estado? Saberia lidar com o tempo livre? Quais habilidades você desenvolveu? Ou entregou sua vida em oferenda ao deus trabalho, e para compensar essa alienação primordial, dedicou-se a um consumo igualmente alienado, como se os bens e serviços por nós consumidos pudessem mitigar verdadeiramente as angústias, carências, alienações, descontentamentos a que estamos todos submetidos?
(...)



Tádzio Nanan
Economista



sexta-feira, 20 de novembro de 2009

MANUSCRITOS ECONÔMICO-FILOSÓFICOS parte 3

Críticos do sistema capitalista desenvolveram teses como a do Decrescimento, do Pós-Desenvolvimento e da Anti-Globalização para contestar alguns axiomas da economia liberal. Tais teses fariam mais sentido se fizéssemos uma transição para uma economia planificada, onde pudéssemos redistribuir toda a riqueza material e o capital de forma a melhorar os níveis de renda e o bem-estar de todos os indivíduos da sociedade e garantir o pleno emprego. Partindo de um ponto de absoluta equidade como este, poderíamos planejar um crescimento econômico mais módico, e, ao mesmo tempo, mais “científico”, no sentido de que seus resultados se distribuiriam igualmente para todos os grupos sociais. Agora, propor a contenção do crescimento econômico, dentro dos marcos do sistema capitalista, é fatalmente agravar a iniqüidade sócio-econômica, o desemprego e engendrar a guerra civil nas sociedades mundo afora.

Propor simplesmente a contenção do processo de crescimento econômico para resolver o problema ecológico é abandonar os pobres e deserdados do mundo à própria sorte. Se já não se pode assegurar, mesmo havendo crescimento econômico, que se conseguirá melhorar a situação sócio-econômica das classes menos privilegiadas, imagine abdicar dos objetivos fundamentais de qualquer economia, o crescimento e o desenvolvimento econômico. Contudo, o preço desse crescimento e desenvolvimento econômico não pode ser a catástrofe ecológica, até porque, se isso acontecer, as perdas financeiras e econômicas futuras também jogariam os pobres do mundo no caos e no desespero. E é justamente a parcela mais frágil das populações mundiais que tentamos defender aqui.

Como propor a contenção do crescimento econômico quando é urgente aumentar a renda per capita dos países pobres e de enormes parcelas marginalizadas da população dos países em desenvolvimento? Como propô-lo quando urge aumentar a oferta de bens e serviços aos miseráveis e pobres do mundo, aumentando seus níveis de bem-estar? Como propor um movimento anti-globalização quando uma das saídas possíveis para minorar a miséria no mundo(dentro dos marcos do capitalismo)é aumentar os fluxos comerciais e de capitais dos países ricos indo em direção aos países pobres, para ajudar a financiar seu desenvolvimento, lutando com afinco para acabar com os bilionários subsídios à ineficiente agricultura dos países ricos e, por exemplo, aumentar a regulação sobre os capitais internacionais, visando a um sistema monetário internacional mais equilibrado, o que poderia ser conseguido se adotássemos a taxa de Tobin.

Ou superamos o Capital, indo em direção a uma economia planificada, ou, permanecendo dentro da lógica do sistema, é preciso usar os mecanismos que ele oferece para melhorar a vida das populações mundiais. Claro que, ao permanecermos sob a influência do Capital, provocamos, pelo menos no curto prazo, um acirramento da crise ecológica, já que as negociações internacionais sobre os limites para a emissão de gases do efeito-estufa se desenvolvem muito lentamente. Se formos mesquinhos e incompetentes a tal ponto, nossas inépcia e letargia se traduzirão em pesadíssimos prejuízos sócio-econômicos para as gerações futuras. De fato, é dentro desse contexto que se propõe a idéia de restringir o crescimento econômico, já que menor crescimento significa menor emissão de carbono. Mas repito: isto afetaria fundamentalmente aos mais pobres. A escolha ideal seria restringir o consumo supérfluo e ostentatório das parcelas mais ricas do mundo (os governos poderiam tributar os comportamentos indesejáveis e criar benefícios fiscais para estimular comportamentos necessários e sadios) e concomitantemente estimular o consumo dos mais pobres, que precisam urgentemente de alimentos, remédios, vestimentas, moradia, acesso à saúde, educação etc. Mas isso é praticamente uma utopia política, afinal, é a plutocracia mundial que manda nos destinos do mundo e das gentes, e também acarretaria prejuízos econômicos, o que não seria tolerado pela burguesia transnacional.

A luta dos homens e mulheres de boa vontade deve ser a de se gerar um crescimento e um desenvolvimento sócio-econômico que acarrete o mínimo possível de impacto ambiental, avançando, por exemplo, para o desenvolvimento e uso de fontes de energia limpa e ecologicamente sustentáveis e hábitos de produção e consumo mais racionais e sustentáveis no longo prazo. A Terra é um sistema fechado, com recursos naturais finitos, mas é possível usá-los de forma sustentável, dando ao meio-ambiente tempo de auto-regeneração (como fazemos com o solo), de forma que possamos continuar usufruindo dos benefícios que ele nos proporciona. É uma questão de avanço da ciência pura, da ciência aplicada, da pesquisa e desenvolvimento de novos produtos e processos produtivos, mais limpos e mais baratos. É também uma questão de decisão política, Política com P maiúsculo, o que envolve necessariamente a participação das sociedades de todas as nações da Terra e o debate plural, aberto e democrático, nas instâncias regionais, nacionais e globais.

Mas, enfim, por que defendemos a continuação do processo de crescimento econômico? Então, vamos explicá-lo e mostrar porque ele ainda é fundamental nos dia de hoje, sobretudo para as massas deserdadas, que dependem em larga medida da atuação do Estado e de uma ocupação que lhes assegure uma renda monetária mensal. Falar em crescimento econômico significa aferir o quanto aumentou marginalmente, num dado período de tempo, geralmente um ano, a oferta de bens e serviços produzidos por uma sociedade e seu sistema econômico subjacente. É importante porque aumentaria o bem-estar, a qualidade de vida da população, o acesso a bens e serviços essenciais a uma vida produtiva e saudável. Se imaginarmos hipoteticamente uma sociedade perfeita, onde todos têm igualmente acesso aos mesmos bens e serviços, na quantidade ótima e com qualidade ótima, uma verdadeira sociedade da abundância, perde importância este fato econômico (o crescimento econômico, o crescimento do PIB). Claro que se a riqueza material puder continuar aumentando, sem contradições e conseqüências danosas, as pessoas, provavelmente, vão preferir sempre mais, como prevê um dos axiomas da microeconomia (preferimos sempre a cesta com maior número de bens). Mas certamente se atingirá um ponto, em meio à abundância, de a riqueza material ir perdendo importância, o que se coaduna com outra lei econômica, a da utilidade marginal decrescente. Se para um casal recém-casado, um automóvel é bom, e dois automóveis pode ser o ótimo, se ambos tiverem que ir trabalhar em locais separados, quaisquer números de automóveis superiores a esse é pura ostentação supérflua, e estamos todos, a sociedade e este casal numa situação não-ideal, de desperdício, de ineficiência econômica, sobretudo em face de existirem famílias sem automóvel algum. É bom lembrar que se a oferta de transporte público for ótima, e houver segurança pública, então talvez sequer precisemos de transporte individual. Quem sabe essa utopia possa acontecer no futuro.

Voltando ao crescimento econômico. Para averiguar a qualidade desse crescimento, temos que observar diversos fatores:

- se o crescimento econômico é pró-pobre, ou seja, se as parcelas mais pobres da sociedade têm ganhos econômicos proporcionalmente maiores do que o das parcelas mais ricas, diminuindo a desigualdade sócio-econômica;
- se os rendimentos do trabalho crescem proporcionalmente mais que os rendimentos do capital na distribuição funcional da renda;
- se gera inflação;
- se gera déficit em transações correntes;
- se é sustentável ecologicamente;
- se gera endividamento interno e externo excessivo;
-se é sustentável inter-geracionalmente (p.ex., crescimento econômico que gere inflação alta ou grande endividamento significa que num futuro próximo o governo terá de elevar a taxa de juro, abortando o processo de crescimento);
- se diminui os desequilíbrios regionais, que no caso do Brasil é flagrante.

Gerar crescimento econômico é essencial para fins de geração de emprego, bem maior do cidadão e da cidadã, no capitalismo (lembremos que numa economia planificada, a economia opera em pleno-emprego; já no capitalismo, devido às contradições inerentes ao modus operandi do sistema econômico, seus ciclos, suas “bolhas” especulativas, suas crises periódicas, o governo deve estar sempre perseguindo a diminuição da taxa de desemprego, ainda mais com a tendência secular de crescimento do desemprego tecnológico). Gerar crescimento do produto significa gerar os empregos necessários para absorver a mão-de-obra entrante no mercado de trabalho anualmente; gerar crescimento também diminui o estoque de desempregados numa economia e substitui os empregos informais por empregos formais, destruindo empregos de péssima qualidade e criando outros de melhor qualidade e melhor remunerados.

Crescimento do produto também significa maior arrecadação tributária. E a atuação do Estado, em todos os seus níveis e propósitos, só é possível com os recursos advindos dela. Países com imensa dívida social, como o Brasil (situação em que se encontra também a imensa maioria dos países do mundo) não podem abrir mão de perseguir o crescimento econômico e o desenvolvimento eco-socialmente sustentado.



Tádzio Nanan
Economista



domingo, 4 de outubro de 2009

MANUSCRITOS ECONÔMICO-FILOSÓFICOS parte 2

Temas para discussão

Fragmentos

(1)

A renda líquida advinda da exploração do petróleo do pré-sal, vindo na magnitude esperada, pode ser fator determinante para mudarmos o curso do desenvolvimento sócio-econômico do Brasil. Realizando-se os prognósticos sobre o volume das reservas e a rentabilidade desse projeto, bem como as intenções do governo federal de aplicar a renda daí advinda em áreas essenciais (educação, cultura, ciência e tecnologia, inovação tecnológica, sustentabilidade ambiental e combate à pobreza) podemos ter um ponto de inflexão no curso histórico do país. É claro que teremos de evitar a “doença holandesa”: a superabundância de moeda estrangeira, que valorizando a moeda nacional afetaria severamente nossa capacidade exportadora e inundaria o país de importações a ponto de gerar a desindustrialização do país. O que seria um erro crasso até pelo fato de o petróleo ser um recurso finito, a poucas décadas de ser esgotado na natureza, cuja era já está em franco declínio (“não foi por falta de pedra que superamos a Idade da Pedra”).

O petróleo do pré-sal pode ajudar o Brasil a entrar no seleto grupo de países de renda alta e elevado desenvolvimento humano e pôr o país em condições de competir com as nações mais ricas e de maior desenvolvimento científico e tecnológico pelos mercados globais. O Brasil tem totais condições de ser um global player. Temos água em abundância – recurso que será tão valioso no século XXI quanto o petróleo o foi no século passado, muita terra agricultável (somos uma das últimas fronteiras agrícolas do mundo; temos o potencial para ser o “celeiro” do mundo, pois nossa agricultura é a mais produtiva e competitiva do mundo), possuímos um dos maiores e mais diversificados parques industriais do planeta, somos o futuro da energia limpa: energia eólica e solar, a biomassa, o etanol da cana, além das tradicionais fontes de geração de energia elétrica: hidroelétrica, carvão, petróleo, gás, e a (futuramente importantíssima para o Brasil) energia nuclear.

Não obstante as expectativas há um ponto de interrogação sobre a questão do petróleo do pré-sal: a quanto estará cotado o barril nas próximas décadas? Claro, ninguém pode dizê-lo ao certo. Mas sabe-se dos compromissos que os países deverão assumir nos próximos anos no intuito de reduzir suas emissões de gases do efeito-estufa. Se o cenário otimista concretizar-se, ou seja, se a economia global conseguir crescer economicamente com menos emissões de carbono, significa que estaremos consumindo menos combustíveis fósseis, trocando-o por fontes de energia limpas e ecologicamente sustentáveis. Portanto, se a demanda por petróleo for progressivamente menor nas próximas décadas devido ao esforço de contenção do aquecimento global, o preço da commodity poderá cair. A pergunta é: este preço menor compensará os custos de extração do petróleo do pré-sal (elevados, já que estão em águas muito profundas)? E se compensar, será suficiente para fazer os vultosos investimentos que o Estado brasileiro sonha em fazer?

No cenário mais desolador, se as nações não conseguirem um acordo geral sobre como combater o aquecimento global, a temperatura no planeta subirá dois ou mais graus centígrados até o fim do século, segundo os prognósticos dos cientistas, e aí teremos uma terrível conseqüência para os brasileiros: a riquíssima biodiversidade da floresta amazônica poderá degenerar em savana. Parece-nos, assim, que o Brasil está entre o martelo e a bigorna: no melhor cenário (de contenção do aquecimento global), perderá importância o petróleo do pré-sal; no pior cenário (considerável elevação da temperatura da Terra), a Amazônia e toda sua potencial riqueza e diversidade biológica ficarão comprometidas.
(...)


(2)

Entraves econômicos enfrentados pelos países pobres e em desenvolvimento (emergentes, na nomenclatura econômica moderna) na competição pelos mercados globais:

1) Os países do capitalismo central têm estruturas de financiamento das atividades produtivas mais adequadas. As taxas de juros são estruturalmente baixas, os prazos de financiamento, maiores, o mercado de capitais é bem desenvolvido, a poupança interna e a taxa de investimento são altas;

2) As corporações econômicas dos países ricos têm economias de escala, que significa menores custos unitários de produção, e, portanto, menor preço de venda, ganhando mercado às expensas dos concorrentes; é impossível a competição entre empreendimentos econômicos que têm escala e aqueles que não têm escala;

3) Os países mais ricos investem pesadamente em ciência e tecnologia, pesquisa e desenvolvimento, inovação tecnológica, o que significa novos produtos, novos serviços, novos processos produtivos e a abertura de novos mercados; enquanto no Brasil a maior parte da C&T e da P&D são financiadas com os escassos recursos da União, através das universidades federais, sobretudo, nos países do G-7, estes investimentos são feitos pelos laboratórios das grandes corporações transnacionais;

4) A mão-de-obra é muito mais qualificada e, por isso, apresenta taxas de produtividade mais elevadas (o que gera salários mais altos);

5) Existe nestes países segurança jurídica e institucional, respeito à propriedade privada e à contratos, o que diminui riscos e custos econômicos.

Nos países pobres e em desenvolvimento, com renda per capita baixa e média, observa-se a situação contrária: 1) instabilidade política, institucional, social, jurídica e macroeconômica; 2) altos índices de pobreza e desigualdade, por si só, fatores impeditivos de maior crescimento e desenvolvimento econômico; 3) mão-de-obra com baixa escolaridade; 4) baixa produtividade do trabalho; 5) os empreendimentos produtivos não apresentam economias de escala; 6) crédito caro e de curto prazo; 7) economia de baixa inovação tecnológica; poucos investimentos em ciência e tecnologia e em pesquisa e desenvolvimento.

As teorias econômicas clássica e neoclássica afirmam que o comércio internacional (e a teoria subjacente das vantagens comparativas) e a livre movimentação de capitais (que migrariam dos países ricos, com baixa produtividade do capital, para países pobres e em desenvolvimento, com alta produtividade do capital,) concorreriam para desenvolver todos os países, tornando-os homogêneos no seu desenvolvimento sócio-econômico. É a hipótese da convergência econômica (a utopia capitalista).

Já a Cepal alerta-nos para a deterioração secular dos termos de troca, conseqüência das diferenças de valor agregado entre as exportações dos países ricos e pobres e das diferentes elasticidades-renda da demanda desses produtos. Ademais, as estatísticas têm mostrado que os fluxos de capitais têm migrado dos países emergentes para os países ricos – o contrário do apregoado pela teoria (a China, por exemplo, tem ajudado a financiar os déficits gêmeos dos EUA, investindo suas reservas multibilionárias em títulos do tesouro americano) e não há qualquer tendência perceptível de convergência sócio-econômica. Ao contrário, constata-se um crescente aumento da desigualdade sócio-econômica no planeta, entre países ricos e pobres, entre regiões ricas e pobres. Mais que isso: mesmo dentro dos países mais ricos do mundo, também aumentam a desigualdade entre regiões e classes sociais. O que fez a OCDE declarar a inoperância das políticas de redistribuição de renda. Contra evidências empíricas não há teoria que resista...
(...)



Tádzio Nanan
Economista



segunda-feira, 24 de agosto de 2009

MANUSCRITOS ECONÔMICO-FILOSÓFICOS parte 1

- Fragmentos

(I)
Com o aprofundamento da globalização, é preciso ter em mente que ela não pode restringir-se apenas a aspectos financeiros, refém de uma lógica economicista, que privilegia a remuneração dos capitais privados (de forma estéril, já que não cria novos bens ou serviços para a economia) em detrimento da qualidade de vida das sociedades humanas, transformando os estudiosos da ciência econômica em paladinos acéfalos do sistema cujo único objetivo é “reproduzir” o capital de mega corporações transnacionais, ao invés de preocupar-se com a mais racional, ética, equânime, sustentável e eficiente mobilização dos recursos econômicos (é realmente eficiente se atender às reais necessidades humanas, sem desperdícios). É imperioso compreender que há muitos outros valores mais essenciais e salutares que simplesmente a mera produção e acumulação de riqueza material a serem resguardados e disseminados para a tarefa de construirmos um novo milênio da maneira a mais equilibrada, sensata e serena. Para isso, é preciso soerguer a Política, que foi submetida aos ditames da economia liberal. A economia não pode, não deve pairar num plano superior à Política, esta entendida como o debate democrático e participativo acerca da resolução dos problemas cotidianos de homens e mulheres e acerca do futuro comum dos humanos, repleto de desafios e potenciais perigos.
(...)

(II)
O progresso técnico, a tecnociência, a razão instrumental despertam forças cegas que põem em perigo a civilização e a dignidade humana (alguns afirmam não existir essa coisa chamada dignidade humana!). Um exemplo dessas forças cegas são as armas de destruição em massa (químicas, biológicas, nucleares), incluídas aí os arsenais à disposição das potências hegemônicas, que as produzem e vendem às áreas conflagradas, auferindo lucros desmedidos e antiéticos (caso dos EUA, com quase metade das vendas, Reino Unido, França, Rússia, Alemanha, China; a maioria destes países faz parte do obsoleto Conselho de Segurança da ONU, cuja missão, ironicamente, é preservar a paz no mundo!). A união da tecnociência com o Capital também tem o potencial de gerar uma desigualdade radical entre os humanos, perigo jamais visto em qualquer outro período histórico: a apropriação privada e a manipulação do código da vida, suas múltiplas aplicações e implicações. Última fronteira do Mercado, sonho tirânico e megalomaníaco do Capital, visando a lucros incalculáveis e poderes incontrastáveis. Sob o dogma desta secular relação social, o Capital, o progresso técnico é apenas uma função do lucro privado da empresa capitalista, e não tem necessariamente relação com o bem-estar das sociedades humanas e satisfação de suas necessidades fundamentais. E é bom que se diga: o lucro pecuniário está longe de ser o fulcro sobre o qual deva alicerçar-se as motivações e atividades humanas. O é no presente, mas tem de deixar de sê-lo no futuro, se quisermos um futuro melhor (lembremos dos lucros que as guerras e conflitos bélicos proporcionam à empresas e governos, do tráfico de drogas, de armas, de órgãos e seres humanos (mulheres e crianças) para o mercado globalizado do sexo etc.
(...)

(III)
A devastação do meio ambiente segue implacável. Atentemos para o que farão nossos líderes na Conferência de Copenhagen, quando se discutirá as mudanças climáticas, os meios de combatê-la, o desenvolvimento sustentável, e um crescimento econômico cujas emissões de gases do efeito-estufa seja progressivamente menor a cada ponto percentual de aumento do PIB. É preciso avançar urgentemente para além do Protocolo de Kyoto. Lembremos que as mudanças climáticas e o aquecimento global têm causas antropogênicas e que resultam do modelo insustentável de crescimento econômico adotado pelos países ricos nos primórdios de seu desenvolvimento capitalista. Agora todos nós humanidade, sobretudo os mais pobres e os que estão em maior risco social, estamos sofrendo os terríveis efeitos da irresponsabilidade, ganância e prodigalidade das auto-intituladas nações mais desenvolvidas e ilustradas do planeta!
(...)

(IV)
Não obstante o contínuo crescimento econômico global das últimas décadas, medido em termos de PIB, não aumentam os níveis de satisfação subjetiva dos indivíduos (pesquisas feitas, p.ex., nos EUA o comprovam), nem diminui as desigualdades entre pessoas, classes, regionais, nações. Uma melhor distribuição da riqueza produzida, uma mais equilibrada e justa, é impossível dado os paradigmas a que estamos submetidos. As evidências? A própria OCDE constatou recentemente que a desigualdade socioeconômica vem aumentando entre os 30 países desta organização, países estes os mais ricos do mundo. E chegou a uma conclusão desalentadora: as medidas clássicas advogadas para se tentar diminuir a desigualdade socioeconômica, a principal delas, a política fiscal (cobrar tributos dos mais ricos para financiar o gasto social), têm se mostrado pouco efetivas. Então, o que fazer? Prevalece o ciclo estrutural da pobreza, ou, segundo os termos de Myrdal, a causação circular da pobreza e da riqueza. Alguns dados (veiculados na grande mídia): 20% da população mundial detêm 80% da riqueza global; as 3 pessoas mais ricas do mundo possuem ativos econômicos superiores aos 48 países mais pobres, nos quais vivem 600 milhões de pessoas; 257 indivíduos têm renda equivalente a de 2,8 bilhões de pessoas (mais ou menos 45% da humanidade); no Brasil, 1% das famílias detém 50% da Renda Nacional; no mundo, quase 1 bilhão de pessoas estão em situação de insegurança alimentar grave (fome mesmo!). São muitos os dados estatísticos que vamos publicar aos poucos, em outros manuscritos.
Definitivamente, o reino do Capital é o reino da barbárie!
É a isso que eles chamam de eficiência econômica?! Epidemia de obesidade nos países ricos e a fome humilhando 1 bilhão de pessoas? Ricos entupindo-se de remédios inúteis para pretensamente combater suas angústias, vazios existenciais e estresse, enquanto as chamadas doenças negligenciadas fazem milhões de vítimas todos os anos porque a toda-poderosa indústria farmacêutica não quer gastar dinheiro em pesquisa para as “doenças de pobre”, já que eles não podem pagar pelo tratamento!? Um bilhão de automóveis e vôos diários de um número sem-fim de aviões ajudando a agravar o aquecimento global e as mudanças climáticas (que aumentarão o número de famintos no mundo) enquanto mais de 2 bilhões de pessoas não têm sequer acesso a saneamento básico!?
O sistema opera bem para 20% da humanidade, mas relega à sarjeta pelo menos 50% dela! É preciso fazer alguma coisa!
(...)

(V)
É preciso ousar viver a vida de forma mais simples, comedida, racional, sustentável, solidária. Não se trata de propor uma utopia regressiva, uma volta a um passado idílico, que provavelmente nem existiu, mas de nos sintonizarmos com a realidade objetiva da civilização humana, da economia, e da encruzilhada em que nos encontramos todos neste momento, que pode ser um ponto de inflexão na curva da História, se realmente desejarmos e agirmos para tal. Necessitamos de novos paradigmas mais sustentáveis e responsáveis de produção e consumo, até porque o planeta Terra é um sistema fechado e finito, e desrespeitar isso é pôr em perigo nossa própria existência. E por quais ideais chegamos ao ponto de ameaçar nossa própria existência na face da Terra? Tudo em nome de uma prodigalidade estúpida, vã, imoral, patética das classes abastadas ao redor do mundo e sua sanha pueril de consumir infinitamente e ostentar e exibir-se mundo afora. É impossível vivermos num mundo em que uma minoria vive alienada e irresponsavelmente, mergulhados num consumo conspícuo irrefletido, enquanto maiorias silenciosas têm de contentar-se em viver com os restos do banquete dos aquinhoados, sofrendo toda sorte de privações, sem acesso a coisas básicas como água potável, saneamento básico, segurança alimentar, um lar, um emprego, salário com que possam sustentar suas famílias, razoável saúde, educação e segurança públicas.
Urge um homem novo, cidadão do mundo, não no plano do turismo ou dos negócios (muitos só enxergam até aí com suas vistas míopes e mentalidade infantil, crendo que o definidor da vida é o dinheiro, o sucesso, a vaidade), mas guerreiro na luta pela soberania e dignidade das populações mundiais, por um relacionamento mais racional e não meramente utilitarista com a natureza (a poluição advinda das atividades produtivas deveria ser contabilizada negativamente no cálculo do PIB), contra o poder político, econômico e militar concentrados e as autoridades sem legitimidade, contra os imbecis racistas, nazistas e adeptos dos obscurantismos de toda ordem, inclusive religiosos, enfim, na luta brava para termos nas mãos o leme do barco da História.
(...)

(VI)
UTOPIA?
Permitamos nos imaginar na órbita terrestre por alguns instantes. Olhando de lá, em direção ao nosso planeta, não veríamos a miríade de divisões geopolíticas, socioeconômicas, culturais, “raciais” (em termos biológicos, não existem raças), muito menos as bandeiras ou símbolos que, no imaginário coletivo, representam povos, ideologias, nações. De lá, veríamos apenas as diferenças naturais do globo terrestre, ficando evidente que este pequeno planeta azul, agraciado com a vida, a todos nós pertence. Cada um de nós é seu responsável e cada um de nós pertence a um mesmo todo, e o todo nos pertence, embora muitos acreditem ingenuamente que tal indivíduo, ou grupos de indivíduos, ou que tal empresa, ou grupos de empresas, sejam donas de partes do planeta, de seus recursos e riquezas naturais. O que estamos afirmando é que há uma prevalência do humano e de sua dignidade acima dos interesses do Capital, das empresas privadas, da propriedade privada, e também de demarcações ilusórias criadas pela geopolítica, pela religião e pelos costumes.

(continuam estes e outros temas)


Tádzio Nanan
Economista



REFLEXÕES SOBRE A VIOLÊNCIA URBANA (em termos de custo de oportunidade e escolha intertemporal)

Em razão dos ataques organizados pela facção criminosa PCC – Primeiro Comando da Capital, contra as forças da ordem, no estado de São Paulo, gostaria de tecer alguns comentários sobre a temática da violência.
Inicialmente, é preciso dizer que os atos de violência, sobretudo quando disseminados e perpassando todo o contexto social, não são mais que um sintoma, evidenciando o quadro de anomia em que vive a sociedade. Eles não são auto-explicativos, havendo sempre causas profundas e motivações fortemente arraigadas. O que nos leva a deduzir que discursos simplificadores, atacando a desumanidade dos bandidos e pregando a Lei de Talião como solução não contribuem para elucidar os meandros do mundo do crime e equacionar ou conter a evolução do problema. Da mesma forma que um indivíduo submerso em problemas pode acabar cedendo às drogas ou assumir atitudes de risco contra sua vida e a de terceiros, uma sociedade que acumula muitas mazelas e tensões sociais acabará tendo de extravasá-las de alguma forma, cedo ou tarde. E esse fato tem provavelmente muito mais relação com a biologia do que propriamente com a ética. Desse ponto de vista, a violência social seria algo não estranho à sociedade, mas um fato natural, presente e decorrente dela mesma, vetor resultante das inúmeras forças conflitantes existentes. Se a sociedade inteira e as instituições todas violentam boa parte dos direitos fundamentais da sua população, se as regras do jogo são injustas, haverá de ter um momento de caos e ao mesmo tempo de catarse para que aquela sociedade ache um novo equilíbrio. Crises são momentos de oportunidade exatamente por isso. Traduzindo popularmente, diante de crises profundas "ou vai ou racha".
Outro dado importante é percebermos que a sociedade brasileira é violenta no sentido mais amplo possível. A violência aqui é dos indivíduos contra os indivíduos, dos indivíduos contra o Estado e, finalmente, deste último contra os indivíduos. Na verdade, o Brasil lembra um pouco a tese do Hobbes sobre o estado de natureza, onde todos confrontam e são confrontados por todos. Aqui é muito verdadeira a assertiva homo homini lupus. E é preciso ter em mente que a violência “simbólica” figura entre as mais graves possíveis: o déficit institucional (ausência do Estado), a ineficácia das políticas públicas, a corrupção endêmica, a inoperância dos poderes, os preconceitos arraigados na sociedade. Que violência pode ser maior que muitos milhões de brasileiros em situação de risco social e insegurança alimentar? Que crime é maior que nossa iníqua distribuição de ativos econômicos (renda, riqueza, educação, poder)? Uma sociedade que é violenta nos mais amplos e multiformes sentidos não pode ingenuamente esperar que sejam pacíficos e cordiais seus cidadãos. O paradoxal é que é verdadeira também a tese que defende sermos nós brasileiros prestativos, receptivos, solidários; mas também somos, e as estatísticas o provam, uma das sociedades mais violentas do mundo. Como milhões de olvidados e marginalizados poderiam reconhecer-se como parte de uma sociedade que perversamente os alija e pretere? Como haveriam de desenvolver um sentimento de "pertencimento" à essa mesma sociedade e às suas regras, que os discriminam e isolam, distantes e invisíveis, para não incomodar suas noções de beleza e justiça?
Há também algo estranhamente contraditório e perturbador na psicologia social do brasileiro, uma espécie de desvio moral-cognitivo: as faltas e culpas são sempre “do outro”, não reconhecendo em si nada de errado e desabonador, nada que contribua para agravar as manifestações de violência. Donde surge o paradoxo: se todos se crêem inocentes e acreditam na culpa dos demais, ou todos somos loucos ou somos todos culpados. Esse tipo de pensamento gera a responsabilização do outro pelos problemas que são de todos, coletivos. O que de certa forma coaduna-se com o culto das sociedades latinas ao personalismo, quando jogamos todas as nossas grandes esperanças num “salvador da pátria”, para que ele faça tudo que é preciso e urgente fazer, enquanto aliviamos o peso das nossas próprias responsabilidades.
Pedindo a devida permissão à Ciência Econômica, gostaria de utilizar o conceito de custo de oportunidade. Pensemos que haja duas hipóteses possíveis para o cidadão comum: seguir ou não seguir a lei. O custo de oportunidade de seguir a lei é não obter os eventuais lucros que infringir a lei traria. No meu modo de enxergar o problema, numa situação como a atual, de enorme dívida social, agravada por longos períodos de baixo crescimento do PIB per capita e ausência de desenvolvimento sustentado, o custo de oportunidade de um jovem (homem) da periferia, com baixíssima escolaridade e desempregado, de seguir a lei e as regras morais vigentes é muito alto: quer dizer, ponderando, ele pode achar que vale a pena o risco de entrar no mundo do crime, já que não tem praticamente nada a perder (não se pode perder as oportunidades que não se tem). Ainda mais quando Phds locupletam-se com o dinheiro público e ricos e brancos manipulam a lei a seu bel-prazer (a impunidade, obviamente, aumenta o custo de oportunidade de se seguir a lei). Não estamos afirmando que os jovens das periferias das grandes cidades são potencialmente bandidos, mas apenas dizendo que, dada as circunstâncias atuais, de completa ausência de oportunidades, o mundo do crime pode acabar por seduzir uma parcela maior de jovens (do que ocorreria em outro contexto mais salutar) com vantagens que a vida dentro da lei e dos bons costumes nega-lhes costumeira e peremptoriamente. E ainda que, de fato, o crime não compense (pelo menos, não para os pretos, pardos e pobres, que superlotam as penitenciárias nacionais; já para a plutocracia nacional...), uma boa dose de "dissonância cognitiva", ou simplesmente desespero, levá-los-á a crer que possa sim ser compensador. Entre as vantagens, ou o "lucro", que a vida no crime pode trazer aos jovens, todas de fortíssimo apelo, temos: dinheiro, a atenção das mulheres, estima, segurança, sentimento de "pertencimento" e poder, respeito, visibilidade (melhor é viver alguns anos com visibilidade, que viver uma vida invisível: aliás, esta é a regra de ouro do capitalismo globalizado pós-moderno!). Numa sociedade que os nega como seres humanos, portanto, uma sociedade injusta e anti-democrática, por que eles deveriam respeitá-la e zelar por ela (aí se tem a sementeira de uma guerra civil).
A questão de entrar ou não no mundo do crime pode também ser vista sob o ângulo da escolha intertemporal. Sucintamente, enquanto os jovens das classes alta e média sacrificam o presente (com estudos e poupança) em nome de um futuro melhor (porque a probabilidade deste futuro vir tal como o planejado e almejado é muito grande), os jovens filhos da indigência e da pobreza desconfiam, e com atilada razão, de que não terão o futuro que desejariam. Se não há futuro, o presente é um fim em si mesmo. E se isso é verdade, e se é verdade também que eles são não mais que párias, deserdados, a conduta lógica (embora isso possa chocar os mais sensíveis ou cínicos...), conquanto imoral e ilegal, é tentar conseguir o que não se tem entrando para o mundo do crime (se nunca me deram, nem hão de dar, vou lá eu mesmo e pego).
Ainda há saídas possíveis, logicamente, além das retaliações covardes, com institucionalização dos esquadrões da morte e execuções sumárias: a efetiva promoção do desenvolvimento econômico, gerando mais emprego e renda, com mais transferência de renda monetária às famílias em maior risco social (essa transferência de renda ajudaria a diminuir, um pouco que seja, o alto custo de oportunidade de uma vida dentro da lei e da ordem); a implementação de políticas públicas voltadas para os jovens da periferia, ofertando-lhes bens públicos e sociais, como escolas de qualidade e oficinas de música, dança, teatro, esportes e arenas para debates políticos, sociais, culturais e, evidentemente, uma política de segurança pública inteligente, integrada e humanizada, que não seja refém da corrupção e dos feudos corporativistas. Assim, ao invés de obter respeito e visibilidade nas quadrilhas que assaltam e traficam, os jovens reencontrar-se-iam novamente a si mesmos e uns aos outros na arte, na cultura e no esporte (e, via efeito-imitação, atrairiam até mesmo os que se lançaram ao submundo).

Tádzio Nanan
Economista



AMANHECER DE ESPERANÇA E... MEDO!
A esperança e o medo constituirão a inescapável bipolaridade do nosso cotidiano nos próximos anos: a esperança da solidariedade, do diálogo, do entendimento, onde as partes cedem um pouco para todos ganharem muito; o medo de um novo rufar dos tambores anunciando mais barbárie, mais tragédia e genocídio. A cada raiar do sol, os povos do mundo estarão atentos já não no discurso, mas nas ações do eloqüente mestiço comandante-em-chefe da nação mais poderosa do mundo. Conseguirá ele, o novo líder, controlar uma máquina cuja finalidade é a guerra? Conseguirá o prometido diálogo, a prometida mudança? Ou o diálogo dar-se-á apenas entre os ricos e poderosos e a mudança será meramente epidérmica? Ele, que pregou a palavra, espalhou-a aos quatro ventos, fazendo-a brotar nos corações do mundo, sentará de fato à mesa com o oponente, sem preconceitos e pré-condições, para entendê-lo, pôr-se em seu lugar e, se necessário, ceder, porque a força não está em impor ao diferente, tornando-o igual, mas compor com a diferença, fazendo surgir o novo. Ouvirá, argumentará livre do ódio irracional, da ideologia arcaica, do preconceito obscurantista? Ou corromper-se-á pelas senis e hediondas regras de um senil e hediondo jogo? Deixar-se-á levar pelo establishment, pelo “status quo” que acaba por tornar-se uma maligna segunda pele? Um mestiço, vítima do preconceito, vencê-lo-á? Calará a ruidosa voz do medo, em si, nos seus, medo inimigo mortal dos sonhos, do sonho do mundo: a paz! Este mestiço, abençoado no nome, será a palavra, será o caminho? O ansiado fim de uma era beligerante: a civilização dos lucros antiéticos, calcados na dor e na morte; dos burocratas e plutocratas sujos de sangue; das mentiras governamentais declaradas nas assembléias do mundo; da super-exploração dos recursos da Terra; da bestial ganância capitalista levada ao paroxismo na guerra - força cega, surda e muda aos legítimos e vitais anseios e necessidades humanos; do conservadorismo intolerante, medieval; do isolacionismo etnocentrista. Este mestiço conseguirá refundar a grande nação do norte, recuperando os ideais dos pais-fundadores, ou incorrerá em erro, como outros falsos-profetas, paladinos da guerra, que tentaram moldar o mundo à sua imagem e semelhança, num ato de vaidade, soberba e arrogância? Tentará fincar sua bandeira em terras alheias, pisará sobre povos e culturas? Ou relegará à lixeira da História o paradigma unipolar de um império em relativo declínio, construindo o entendimento entre os povos, o futuro comum dos homens na Terra? Fará ver a todo o povo que o sustentáculo de uma nação não é seu ímpeto belicista ou seus arroubos consumistas, mas a grandeza de suas idéias e a coerência de suas decisões? Este mestiço será o caminho para o futuro, o verdadeiro umbral do século XXI, de novidades alvissareiras, de convergências e alinhamentos, de cooperação e inclusão, de governança global e multilateralismo? Denunciará o perverso fetichismo das armas e as proposições falsas, cínicas, corruptas do complexo industrial-militar? Soerguerá a Política, entendida como a promotora do bem-comum? Denunciará a fome (em meio ao consumo conspícuo, um bilhão de pessoas não tem o que comer), a miséria, o aquecimento global, assumindo uma postura de liderança e pró-atividade? Este mestiço será a mão a desenhar o esboço de um novo mundo que contemple as mudanças radicais de que precisamos? Um novo presidente, um novo século, uma nova história? Vem a dúvida: quanto pode um homem? Se realmente quer, pode muito. Mas emerge uma certeza: quanto podemos nós, humanidade? Juntos podemos tudo!


Tádzio Nanan



EMPOWER WOMEN
Mãe de todos nós, cuidadora da humanidade, a mulher merece a proteção, o cuidado e carinho, não só da parte do seu parceiro e familiares, mas, sobretudo, por parte do Setor Público, do Estado, que deve materializar esse cuidado e esse carinho em direitos concretos, proteção e promoção permanente não apenas quando a mulher está gestante, mas por todo o período subseqüente, mormente nas diversas etapas do desenvolvimento infanto-juvenil. O que, infelizmente, está longe de ser realidade no Brasil. Na verdade, ocorre o oposto. A mulher continua sendo “o negro do mundo”, como disse o John Lennon. Continua sendo o mais pobre entre os mais pobres. Há um completo descaso em relação à saúde, segurança e bem-estar das gestantes e um total abandono, quando não abuso, da infância, com resultados tenebrosos: alto número de mortes de gestantes, altos índices de mortalidade infantil, exploração sexual de crianças e adolescentes, violência doméstica e social contra a mulher e a criança. Ameniza-se este estado de calamidade com maciços investimentos em saúde pública, e com políticas focalizadas na questão feminina. Claro que já existem boas políticas, mas é preciso avançar para muito além.
Não basta apenas cuidar da gestante, é urgente dar poder às mulheres (empower women). Dar-lhes acesso ao poder político e ao poder econômico, para que tenham realmente autonomia e liberdade, fazendo parte das instâncias decisórias, das decisões políticas e econômicas, no intuito de tornar as sociedades humanas mais iguais, plurais, produtivas e pacíficas. A História comprova a ineficácia e o horror do monopólio masculino do poder, seja ele político, econômico, intelectual. É preciso criar os instrumentos legais e as políticas públicas necessárias para que as mulheres atinjam objetivos como: aumentar sua representação nos parlamentos locais, regionais e nacionais; reduzir as diferenças salariais entre os gêneros; ocupar funções destacadas do setor público e do setor privado; desenvolver suas habilidades, seus conhecimentos, escolaridade, em todos os níveis; evitar a gravidez precoce; combater o desrespeito, a violência, a exploração sexual.
Estudos comprovam que a pobreza (para não falar neste crime hediondo que é a miséria) tem conseqüências devastadoras sobre a saúde e o desenvolvimento físico e mental, o desenvolvimento intelectual, cognitivo, sobre a imaginação, e mesmo sobre os traços de personalidade que as crianças vão desenvolver na vida adulta. A falta de alimentação adequada já na primeira infância pode acarretar severas conseqüências que as crianças levarão para o resto de suas vidas, afetando sua saúde e desenvolvimento físico, podendo acarretar uma lesão cerebral que os fará menos aptos intelectualmente e menos criativos e imaginativos. Por isso, políticas públicas (como o Bolsa Família) que resultem em melhores níveis de alimentação na tenra infância (fase crucial do desenvolvimento humano já amplamente comprovado pela ciência e divulgado em relatórios mundo afora) e mais e melhores horas de estudo durante toda a sua infância e adolescência, são indispensáveis para o desenvolvimento de uma nação. Isso não é política assistencialista. Nem caridade. É um dever moral e também tem uma racionalidade econômica, o melhor investimento econômico: investir no ser humano, investir em corpos e mentes, donde sairão as descobertas científicas e inovações tecnológicas e toda a arte que se fará no futuro, donde emergirá o próprio futuro. Uma política pública que revolucionaria esse país, já realizada por muitos países, não por acaso os mais ricos, e de resultados comprovados: tornar a escola pública melhor que as escolas particulares, instaurando, de fato, a meritocracia. Imaginem os filhos dos banqueiros lado a lado nos mesmos colégios que os filhos do porteiro do prédio em que moram. Isso sim faria um país realmente justo e democrático!
Para sermos verdadeiramente livres e vivermos plenamente a vida, sem exploração e alienação, devemos superar o capitalismo. Mas, mesmo dentro da lógica do capital, uma regra é sagrada: a competição. E para que ela possa existir efetivamente tem de haver igualdade de condições para todos, independentemente de quaisquer outros fatores. Assim, é um imperativo ético, político e econômico urgente dotar os filhos das classes mais baixas dos instrumentos e das políticas públicas para torná-los em condições de competir com os filhos das classes abastadas. Não existe competição honesta entre os radicalmente desiguais. Por enquanto o Brasil só opera para os 10% mais ricos, reproduzindo um quadro de extrema desigualdade. Está mais para Medéia do que para “mãe gentil”.

Tádzio Nanan
Economista

**

CONSIDERAÇÕES SOBRE O 11 DE SETEMBRO DE 2001 (E SUAS CONSEQUÊNCIAS PELO MUNDO)
por Tádzio Nanan


Responde-se a um ato de barbárie com Política, com P maiúsculo, e, na pior das hipóteses, com uma guerra justa, concorde leis e convenções internacionais; só os covardes, hipócritas e cínicos respondem barbárie com mais barbárie (entre estes covardes podemos citar George W. Bush, Dick Cheney, Donald Rumsfeld e seus “falcões”)

O hipócrita mundo ocidental...
Acredita ser a “luz do mundo”...
Na verdade, é um paradoxal jogo de soma zero: a cada sopro de luz que trouxe ao mundo (em termos de progresso material e intelectual) trouxe também estridentes gritos de horror (advindos de inescrupulosos atos de regressão moral e ética, como guerras de domínio, espoliação e extermínio)

A barbárie do próspero e ilustrado é mais hedionda (e mais imperdoável) que a barbárie do miserável e ignorante (lembrem-se disso Europa Ocidental e EUA!!)

Não seja ingênuo a ponto de acreditar que uma nação capitalista investe pesadamente em seu complexo industrial-militar apenas para auto-defesa, proteger o que é seu; ela quer muito mais: atacar, roubar, espoliar o que é dos outros (pergunte ao Estado Norte-Americano...)

A guerra é uma das formas mais eficazes de transferir recursos dos contribuintes de uma nação para as corporações representantes do grande capital; este é, provavelmente, o motivo real da maioria das guerras (pergunte ao Estado Norte-Americano...)

Não acredita no teu mandatário, nas instituições e agências do teu país, nem na burocracia estatal, nem na plutocracia nacional, nem na mídia ou nos partidos políticos; acredita em ti mesmo e na tua busca feroz e incessante por informação, por conhecimento, pela verdade, debatendo sempre e sempre ouvindo o contraditório, todo dia

Um indivíduo que baseia sua existência em conceitos tais como egoísmo, força, eficiência, vaidade e arrogância pode até ser exuberante por fora, mas está oco, podre e morto por dentro

Para melhor entender o caráter do Homem sob o domínio nefando do Capital:
Os EUA gastaram trilhões de dólares numa guerra injustificável, visando a exploração das riquezas do Iraque (promovendo um genocídio de centenas de milhares de mortos - fala-se até em 1 milhão de civis mortos!), e são moralmente incapazes (simplesmente porque não querem) de concertar um acordo que constituisse um fundo global para acabar com a miséria no mundo apenas com uma insignificante parcela do valor gasto em guerras...

**

Para comemorar o 7 de setembro de 2011, algumas verdades sobre a “mãe gentil, pátria amada Brasil”
por Tádzio Nanan


-ostenta enormes índices de acidentes de trânsito: mutilações e mortes (um dos maiores do mundo)
-ostenta enormes índices de acidentes de trabalho (este é o respeito e a gratidão que o empresariado nacional e o Estado têm com quem produz a riqueza nacional...)
-ostenta enorme desigualdade sócioeconômica e de oportunidades (uma das mais vexatórias do mundo)
-ostenta enorme desigualdade sócioeconômica entre as regiões do país (desenvolvimento desigual)
-é um país extremamente preconceituoso (ainda que faça o discurso do politicamente correto; ou é auto-engano ou é hipocrisia!): preconceito de classe social, de gênero, de cor da pele, de opção (ou definição) sexual, de origem geográfica
-as mulheres sofrem violência sexual e psicológica
-as crianças sofrem violência sexual e psicológica
-a infância está desatendida neste país
-a adolescência está desatendida neste país
-a velhice está desatendida neste país
-ainda persiste no Brasil o trabalho escravo e o trabalho infantil
-os deficientes físicos e os doentes e deficientes mentais estão desatendidos neste país
-as drogas grassam neste país
-a prostituição infantil grassa neste país
-o salário mínimo é uma afronta à dignidade humana, e o salário médio do trabalhador brasileiro é trágico (e o salário do professor do ensino básico e médio é MUITO TRÁGICO)
-50 milhões de analfabetos funcionais no país (1/4 da população nacional)

na economia:
-as mulheres percebem salários sensivelmente menores que os dos homens para funções iguais ou semelhantes e com mesmo grau de escolaridade
-os afro-descendentes percebem salários bem mais baixos que os brancos
-os mais pobres pagam proporcionalmente mais tributos que os mais ricos
-os mais ricos pagam baixíssimo imposto de renda
-os mais ricos “mamam nas tetas” do governo (desculpem-me a expressão); é o famoso PATRIMONIALISMO (lembrem-se também do nepotismo)
-a corrupção é epidêmica no país, em todo o país, em todas as esferas do poder (a corrupção subtraiu aos cofres públicos o equivalente a 40 bilhões de dólares (o PIB da Bolívia), apenas entre os anos de 2002 e 2008!)
-os grandes empresários recebem empréstimos subsidiados do BNDES (o “Bolsa-Empresário”), enquanto o trabalhador pobre e honesto paga os juros reais mais altos do mundo (paga duas tvs no cartão de crédito para receber uma)
-a política macroeconômica é uma afronta à inteligência: os juros reais mais altos do mundo, uma moeda extremamente valorizada (enquanto os ricos se refestelam com importações baratas e viagens ao exterior) e um gasto público que transfere recursos para os segmentos mais ricos da sociedade (via pagamento de juros da dívida pública, previdência social do setor público, educação superior para os ricos, etc, etc)
-o Bolsa-Família é esmola para pobre (mas entenda-se bem: é melhor do que nada!)
-o “Bolsa-Miami” (juros da dívida + câmbio sobrevalorizado) é uma afronta (mais uma) à dignidade do trabalhador e da trabalhadora brasileiros
-um passivo externo gigantesco
-uma desindustrialização a caminho...

continuando:
-aqui temos cidadãos de primeira e segunda classe, e alguns são chamados de "os descartáveis"
-o sistema carcerário é uma afronta à dignidade humana, denunciado pela ONU quase todo ano (errou, pune-se visando a recuperação do indivíduo; mas aqui tortura-se o sujeito até aperfeiçoá-lo como bandido)
-uma elite venal, medíocre, alienada
-uma das mais altas taxas de homicídio do mundo (o Brasil tem 3% da população mundial e 9% dos homicídios do mundo; eita povinho cordial e pacífico...)
-o auto-engano como a segunda pele do brasileiro
-uma felicidade alienada (muita cachaça, futebol e mulher pelada)
-e nem se engane: é falsa nossa internacionalmente afamada cordialidade: o que somos mesmo é submissos a gringo e “baba ovo” da estrangeirada (desculpem-me a expressão, mais uma vez)

Por tudo isso, J'ACCUSE:
O Brasil é o país mais violento do mundo!
O Brasil é o país mais irracional, paradoxal e contraditório do mundo!
É, realmente, um país sui generis
Mas não só isso:
É uma esfinge
que canta toda noite
(assombrando o sono do brasileiro):
DECIFRA-ME OU TE DEVORO!!


*mas há salvação ainda, porque temos virtudes e coragem também; e vamos precisar muito delas para criar aqui, nos trópicos, uma civilização que possa ensinar ao mundo a ser mais feliz e pacífico, precisando e querendo menos

**

REFLEXÕES SOBRE NOSSA CIVILIZAÇÃO E SUA BASE IDEOLÓGICA
por Tádzio Nanan

O império da biologia é egoísmo e vaidade; o império da civilização é altruísmo, “sublimação”, cooperação; eis aí a razão da nossa esquizofrenia coletiva!

O mesmo sentimento humano, bastante positivo, que leva o Homem a superar-se a si mesmo, aos seus inimigos e obstáculos, tão próprio da ideologia capitalista, cuja palavra-chave é competição, degenera, mais adiante, em extremo egoísmo, rapacidade, vaidade e indiferença; por outro lado, o sentimento humano, também bastante profícuo e produtivo, que leva o Homem a “sublimar” seu ego, seu egoísmo e vaidade, tão próprio da ideologia socialista, cuja palavra-chave é cooperação, degenera, mais adiante, em acomodação, imobilidade, ineficiência; como vêmos, as raízes das duas formas modernas de sociabilidade humana têm efeitos contraditórios e imperfeitos!

Por que o capitalismo funciona (ou seja, produz riqueza material, ainda que não a distribua equitativamente)? Porque a competição, motor do capitalismo, está “gravada” em nossos genes pré-históricos; no capitalismo, biologia e economia se coadunam para uma mesma finalidade: competir e vencer, em nome da nossa vaidade; e ainda que fracassemos uma centena de vezes, alimentamos esperançosamente a imortal e redentora idéia de sermos bem sucedidos ao final (seria apenas ridículo se não fosse completamente trágico)

Nenhum comentário: